sábado, 11 de fevereiro de 2012

A Lua e o Sol (Coletânea)

A LUA E O SOL

Reza uma antiga lenda tribal que, no final de sua divina criação, o Pai – todo poderoso – gerou um casal dotado de inteligência para governar o mundo e cuidar de tudo o que ali estava contido. Eis que surgiu o ser humano que, em sua origem, recebeu a graça da imortalidade. Ao homem, de pele negra, foi concedido o nome de Coaraci e a alva mulher chamou-se Jaci. Aos dois, Deus fez uma única restrição. Jamais poderiam se alimentar dos belos frutos de uma determinada árvore. Dizem os índios que esta foi a forma que o Criador escolheu para testar a obediência de suas criaturas capazes de raciocínio. 
Temerosos de uma possível punição, o casal obedeceu e, distantes da árvore que chamaram de proibida, cultivaram o amor que fez a barriga de Jaci inchar. Deus então se fez presente para informar que um filho estava por vir e Coaraci – numa felicidade imensurável – saiu pelo mundo a fora à procura de um presente para dar a sua amada. Tempos depois o primeiro homem da Terra regressou com a mais bela concha do mar e a entregou para sua mulher que a recebeu com satisfação. Iraputã, menino de pele mesclada entre o alvo e o negro, foi o primeiro dos muitos filhos que o casal concebeu e, todas as vezes que a barriga de Jaci inchava, Coaraci realizava o mesmo ritual. Partia em busca de um novo presente que sempre sobrepujava o anterior. Assim ele fez até que não restasse nenhum presente inovador. Coaraci então regressou com uma concha do mar, repetindo o presente que havia dado há séculos.
Mal acostumada, Jaci não a recebeu com a mesma satisfação de outrora. Havia se tornado uma mulher vaidosa e exigente. Descontente, pediu ao seu amado que partisse e só retornasse quando encontrasse algo que superasse o último presente. Coaraci então explicou que já havia lhe dado tudo, no entanto, Jaci disse que ele estava enganado, pois ainda havia algo que não tinha recebido. Intrigado Coaraci perguntou o que era e espantou-se ao ouvir a resposta. Jaci desejava o fruto da árvore proibida.
Coaraci mencionou a restrição de Deus, mas sua amada, que desejava provar daquele fruto, estava irredutível. Como não desejava decepcioná-la ele então partiu com a promessa de trazer o fruto e, diante da árvore proibida, enfrentou em seu íntimo a árdua escolha entre o amor que sentia por Jaci ou a obediência ao Pai. Permaneceu por muito tempo nesta reflexão até que finalmente tomou sua decisão e voltou. Neste ínterim sua mulher já havia dado a luz e esperava, ansiosamente, pelo presente. Coaraci se aproximou e entregou o fruto que trazia consigo. Em seu livre arbítrio optou por agradar a amada.
Diante do fruto pomposo, Jaci não pensou duas vezes. Mordeu, com vontade, saboreando o néctar suculento daquele alimento. Como no primeiro momento nada aconteceu, Coaraci sentiu-se tentado e também experimentou do fruto. Os dois comeram até que o último pedaço fosse ingerido e Deus então surgiu. Ao vê-lo Coaraci, imediatamente, tomou a frente de Jaci e disse ser o culpado de tudo, pois fora ele quem apanhara o fruto da árvore proibida. Esta por sua vez tomou a responsabilidade para si alegando haver influenciado seu amado. Percebendo que o amor entre os dois era maior que tudo, Deus julgou que o castigo mais adequado seria a separação do casal. Eis que os dias passaram a ser divididos em luz e escuridão e os dois foram lançados aos céus. Coaraci para guardar o dia e Jaci para guardar a noite. Com isso os dois são afastados e Deus então se volta para os filhos do casal destituindo-os da imortalidade para que possam morrer e, por diversas vezes, renascer ora como pais, ora como filhos, ora como homens e ora como mulheres, até que aprendam a amar a si mesmo e a seus semelhantes de forma igualitária e ao criador sobre todas as coisas.
Os índios relatam que desde aquele dia surgiu a chuva. Lágrimas que do alto dos céus o casal verte pelo remorso e pela dor da separação. No entanto, Deus – em sua infinita bondade – um belo dia permitiu que o casal, que estava afastado para toda a eternidade, pudesse se encontrar. Feliz pela notícia Coaraci, como fazia em outrora, partiu em busca de um presente inesquecível e assim que retornou, encontrou-se com sua amada. Eis que surgiu o eclipse, fenômeno raro que acontece de tempos em tempos com a autorização do Pai criador. O período da visita fora bem curto, mas os dois puderam matar a saudade que sentiam um pelo outro. Quando finalmente chegou o momento da despedida, Coaraci então espalhou, ao redor de sua amada, às milhares de pedras preciosas que havia encontrado pelo universo a fora. Eis que surgiram as estrelas e emocionada Jaci chorou. Daquele dia em diante a chuva passou a representar não somente a tristeza, mas também a felicidade.


Por Thiago Tavares.
CONTOS DE FANTASIA

Um comentário:

  1. Nota Importante: Desde pequeno ouvi e também li muitas estórias a respeito da origem do sol e da lua. Gosto tanto deste assunto que resolvi criar minha própria lenda. Numa mistura de algumas porções de crenças religiosas e uma pitada de imaginação, criei este texto sem nenhuma intenção de competir com outros que versam sobre este mesmo assunto, mas tão somente para se somar a eles.
    Espero que gostem!

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