sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Para Sempre (Ed. Baraúna)


   

   Para sempre é um romance que conta a história de um amor de infância que transpõe a tudo, e até mesmo o tempo. Esta narrativa vai arrebatar o seu coração.
   Elizabeth e Justin se conheceram quando crianças. Foram melhores amigos e juntos descobriram o significado do amor. Após um afastamento de dez anos, eles se reencontram e podem então viver esses sentimentos tão irresistíveis, lutando contra dificuldades, dramas e conflitos familiares. Mas a vida não é feita apenas de lutas, com muita fé eles descobrem que o verdadeiro amor é capaz de transpor todos os obstáculos, valorizando cada pequeno gesto e momento, e que tudo vale a pena quando se tem a capacidade de amar e perdoar.






“As minhas borboletinhas estavam dançando de felicidade, no mesmo compasso do serpentear de sua língua. No início reagi de forma tímida. Pouco a pouco fui me soltando e correspondi o beijo com ardor. Aquele foi o nosso primeiro e glorioso beijo. Sentia meu corpo leve, flutuando em um estado completamente encantado com o toque, o gosto do sorvete, o prazer dos movimentos, a alvoroço das minhas borboletas....”(Trecho extraído do livro)


Título: Para sempre
Autora: Glaucia Santos
ISBN: 978-85-7923-471-2
Formato: 14 x 21 cm
Número de páginas: 342
Preço: R$ 39,90
Preço no site da editora: R$ 29,90


A Autora

   Glaucia Santos tem 32 anos, é casada e criada na cidade de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Formou-se em Sistemas de Informação pela Universidade do Grande Rio e atualmente trabalha como analista de serviços de telecomunicações. Leitora ávida e compulsiva, já leu mais de duzentos livros e hoje se dedica a publicar resenhas sobre obras literárias. Começou a escrever no final de 2008, quando publicou sua primeira estória na internet. Depois de tanto “brincar de escrever” resolveu publicar o seu primeiro livro: Para Sempre. 


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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Editora Baldon lança série infanto juvenil


  Caros leitores, hoje a novidade é para a molecada! A literatura infantil está ganhando um novo reforço. A editora Baldon está lançando a “Série Verde”, uma coleção ilustrada, desenvolvida pela escritora Isa Colli. Os cinco livros iniciais dessa série estão voltados para o público infanto juvenil. São obras paradidáticas que possuem como tema principal a preservação do meio ambiente. Essa é mais uma boa oportunidade de estimular os pequeninos à leitura. Confira algumas informações sobre os lançamentos:


   A Árvore Dourada é uma historinha que conta sobre o despertar de um garotinho para o melhor entendimento de cada vida, dos moradores de um lindo pomar.
  Nela, as crianças poderão ter acesso a conhecimentos diversos sobre o funcionamento da natureza perfeita que nos cerca e embarcarem com Juca numa aventura imaginária e muito educativa. Durante um simples passeio, ele aprende sobre a importância de cada ser vivente e se orgulha dos amigos que conheceu nesse cenário mágico e encantador. 



  Como a Cachoeira da Espuma, em Montes Belos, existem muitos outros santuários da Fada Malena espalhados por todo o mundo. Na história, aprendemos a ter a justa consciência sobre a necessidade da preservação de nosso lindo planeta.
 Certamente seremos muito felizes se seguirmos as orientações da fadinha e pudermos garantir que nossos filhos e seus sucessores possam viver em um mundo limpo e conservado em suas forças naturais, com cachoeiras límpidas, florestas vivas, mares azuis e ar purificado.
  A Fada Malena fez bem a parte dela, façamos nós a nossa.




  Preservação ambiental e reciclagem são coisas da maior importância, para todos nós.
Devemos aprender com os bichos da historinha, como proceder diante das situações de depredações e falta de cuidado com o meio ambiente, da necessidade de preservar as nossas reservas naturais. 
  Embarque nessa aventura com a bicharada que vive na Lagoa Grinalda e aprenda a importância da amizade, do trabalho em equipe, do respeito ao meio ambiente e da reciclagem.
A união fez, faz e sempre fará a grande diferença!


  Como a Nuvem Floquinho nos mostrará na historinha, devemos estar muito atentos ao desperdício da água no planeta. Ela é o combustível que movimenta o motor de todos os seres viventes e deve ser cuidada com muito carinho.
  Devemos tomar consciência e seguir o exemplo da nuvenzinha, que diante dos desperdícios e da poluição das fontes, lagos, rios e mares, tomou uma atitude de preservação e conscientização da importância da água para a sobrevivência do planeta.
 





   Nesta historinha aprenderemos de forma encantadora, que por causa da inclinação da terra em relação ao sol, ocorrem as quatro estações do ano: Outono, Inverno, Primavera e Verão. Venha visitar o reino mágico de Sofia e conheça de perto a sua linda família, que governa até os dias de hoje, os doze meses do ano na terra.






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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Oitavo Pecado (Resenhas)


                                             Por Thiago Tavares

  Um anjo de nome Henaph que – em seu princípio de formação como criatura – já apresenta pensamentos e anseios que a distanciam da missão, a ela concedida, pelo Pai Criador. Assim inicia-se o romance contido nas páginas da obra O Oitavo Pecado.

  Colocada, temporariamente, no Jardim do Éden enquanto se prepara para ser um anjo da guarda disposto a auxiliar outras criaturas do Pai, de padrão evolutivo ainda inferior ao seu, Henaph acaba por se perder em devaneios de pura vaidade. Com a permissão do Deus maior, a protagonista recebe auxílio de Hermes – também um deus, porém em hierarquia inferior. Por este, o anjo passa a alimentar aquilo que acredita ser uma paixão fulminante, incapaz de ser contida. Hermes a instrui a deixar de lado as paixões e aprender a cultivar o amor, mas Henaph já encontra-se perdida em meio aquele sentimento que pensa ter sido o seu passaporte para uma região mais compatível com sua forma pensamento: Um orbe planetário de nome Terra; lar de criaturas ainda arraigadas por vicissitudes diversas.

  Por intermédio de Hermes – ela é recebida na morada do rei Asterion, situada ilha de Creta, onde também vive Minos, sucessor ao trono de Creta e homem por quem Henaph – aos poucos – irá descobrir outra forma de amar; algo mais intenso, mais palpável. Sentimento até então inovador para ela e que se inicia através de uma amizade verdadeira; todavia, a relação entre Minos e Henaph, enfrenta barreiras como um casamento já previamente marcado; os ciúmes de uma das servas de Asterion, igualmente encantada por Minos; uma missão evolutiva, além é claro da paixão por Hermes que, nos momentos de grande necessidade, continua a surgir nos caminhos de sua protegida.

  No decorrer da trama, Yekun – o anjo decaído – surge para tentar ludibriar Henaph e consequentemente tomar posse de algo valiosíssimo que ela ainda guarda, mesmo sem saber. Hermes é quem impede que isso aconteça, e ao lado de outros personagens adicionados sagazmente pela autora, como a pequenina Ànfile, e a guerreira Dana, são os que trazem ensinamentos que permitem um desanuviar na mente da conturbada Henaph, personagem principal desta obra que, diga-se de passagem, é dotada de um desfecho emocionante.  

  O anjo que deixa o Éden, alcança a Terra, decai ao Purgatório para só então conseguir atingir o progresso evolutivo, nos remete a reflexão de que, muitas vezes, é somente através da dor que o caminho reto em direção ao progresso surge diante de nós. O Oitavo Pecado é sem dúvida um livro que, através da fantasia, traz muitos ensinamentos espiritualistas que nos concede um aprendizado a ser praticado no dia a dia, sendo a necessidade de romper com vicissitudes em busca do progresso individual, um dos principais deles. Uma ótima indicação para o público jovem e ainda, de modo geral, aos leitores que apreciam mitologia e romance. 


A Autora

 
  Adriana Vargas nasceu em Anápolis – GO, formou-se em direito, vencedora de diversos concursos literários, coordenadora do Clube dos Novos Autores e agente literária da Modo Editora.






Editora: Modo
 Autora: Adriana Vargas de Aguiar
ISBN: 978–85–65588–00–3
Título: O Oitavo Pecado
Ano: 2012
Nº de Páginas: 216


Outras obras de Adriana Vargas:

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

As crônicas de Fedors (Ed. Braúna)


    
    O livro de Esteros – As crônicas de Fedors é um livro de fantasia clássica, que aborda principalmente as mitologias élficas e nórdicas. Com um fundo enigmático, e um novo estilo de narração, Aldemir recria um mundo, cheio de criaturas mitológicas, esportes próprios, culturas ocultas, criaturas misteriosas, crenças irreconhecíveis e duas raças jamais antes vistas.
    Esteros é um planeta composto por cinco continentes e durante 100 anos viveu momentos de paz, até que um erro destruiu um século de abstinência. Seria incorreto esconder de seus filhos, que vivemos em um mundo desumano? Mussafar cometeu este erro e pagou caro por ele. Seu filho Vamcast infringiu todas as leis e atraiu elementos sombrios que transformam a vida de todos. A guerra a muito esquecida, recomeça e os Naireanos têm que lutar mais uma vez, pois o ‘Mal’ ameaça a todos os seres vivos deste planeta.





Os livros de Esteros – As crônicas de Fedors
Autor: Aldemir Alves
ISBN: 978-85-7923-579-5
Número de páginas: 202
Preço: R$ 37,90
Preço no site da editora: R$ 27,90



O Autor

    Aldemir Alves é técnico na área de informática - montagem e manutenção de microcomputadores. Atua no ramo de Lan House e jogos eletrônicos há mais de dez anos. Iniciou no mundo da leitura ainda criança, onde mantinha uma parte de seu tempo lendo livros da serie Vaga-lume. Aldemir é amante dos gibis da Marvel, fascinado pelas criações de Stan Lee.





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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Vestígios do Passado (Coletânea)


VESTÍGIOS DO PASSADO

Era uma cinzenta tarde de outubro, quando a caminhonete de mudanças estacionou diante da imensa residência rural que agora estava registrada no nome de Suzana Ferreira, mulher viúva, mãe de dois filhos que acabara investindo toda sua reserva financeira para deixar a cidade grande e recomeçar a vida, longe das tristes lembranças do falecido marido.
As portas da velha caminhonete se abriram e de seu interior, Mariana foi a primeira a saltar. As pernas curtas de menina correram céleres até alcançar uma árvore onde existia um balanço dependurado. Suzana sorriu. De longe, observava a filha caçula se divertindo, enquanto os homens contratados para trazer a mudança desembarcavam as mobílias.
– É uma bela casa! – exclamou Eduardo, saltando da caçamba da caminhonete.
– Ainda custo a acreditar que ela é nossa! – disse Suzana, ainda com os olhos voltados para a filha. – É bem antiga, mas...
– Só precisa de alguns reparos! – interrompeu Eduardo, que não via problemas em viver numa velha casa de engenho. – Vou ajudar a levar os móveis. – concluiu, em seguida, afastando-se para auxiliar os rapazes que, com dificuldade, carregavam uma pesada mesa de mogno.
Feliz por notar a satisfação dos filhos, Suzana apanhou o telefone celular e discou o número do senhor Alberto, o corretor com quem havia realizado a negociação da fazenda. Desejava agradecê-lo pela indicação do terreno que tinha o preço muito abaixo do valor de mercado, contudo, por mais uma vez, caiu na caixa postal. Era a quinta ligação que tentava naquele mesmo dia. Estranhamente, após a venda concretizada, Alberto parecia haver desaparecido do mapa.   
Foi preciso pouco mais de meia hora para que toda a mobília fosse levada para dentro. Neste meio tempo, Suzana preparou uma deliciosa limonada e ofereceu aos rapazes da mudança que, cansados, tomavam um pouco de ar no quintal. Ali mesmo, eles beberam do suco e instantes depois, revigorados, partiram. A menina, que até então se divertia no balanço, correu para também se refrescar com a limonada. Sua mãe a serviu, contudo, mal botou a boca no copo e avistou o que parecia ser um grande galpão com grades nas janelas, situado não muito longe da casa onde agora passaria a viver. 
– O que é aquilo? – perguntou a pequena Mariana, desistindo de dar o primeiro gole e apontando para a rústica estrutura feita de madeira e barro.
– É uma antiga senzala. – esclarece Suzana. – Era lá que ficavam os escravos desta fazenda.  
– O que são escravos, mamãe?!
Suzana respirou profundamente como se tentasse inalar paciência.
Com apenas 7 anos de idade, sua filha estava naquela fase da infância em que o desejo de saber tudo sobre todas as coisas começava a aflorar. Enquanto Mariana escutava, entretidamente, como era a vida nos engenhos de açúcar, Eduardo caminhava pelo interior da nova residência. Avançava pelos cômodos deixando pegadas sobre o chão, extremamente empoeirado quando, de repente, deparou-se com uma menina mulata de olhos tristes, vestindo trapos sujos. O encontro, inesperado, causou-lhe espanto imediato. Com o susto, foi preciso se esforçar para conter um grito que felizmente ficara entalado em sua garganta, pois, do contrário, certamente o teria constrangido diante daquela representante do sexo oposto que estava a fitá-lo.   
A indagação foi inevitável:
– Quem é você?!
A menina de aspecto sombrio, não respondeu, todavia, a pergunta pareceu surpreendê-la. Alguém finalmente falava com ela.
– O que faz em minha casa?
Novamente, silêncio. Por um tempo que Eduardo não soube dimensionar ao certo, aquela misteriosa garotinha ficou a observá-lo até que de súbito, iniciou a correr.
– Volte aqui! – gritou indo atrás da garota que, velozmente, avançava pelos corredores.
A perseguição se delongou até atingirem o final de um dos corredores que terminava numa velha porta de coloração branca já desgastada.
– Agora você não tem como escapar! – exclama Eduardo, ofegante. – Quem é você? – Diga de uma vez!
A menina não deu uma palavra sequer. Ao invés disso, ergueu seu braço, delgado, e apontou para a velha porta como se quisesse dizer algo. Foi exatamente neste instante que uma voz fez Eduardo se virar:
– O que está fazendo?!
Eduardo virou-se e viu sua mãe que, carregando sua pequena irmã nos braços, parecia preocupada. Já abria a boca para dar explicações quando, voltando os olhos novamente na direção da porta, não encontrou mais a menina. Sua reação imediata foi tentar abrir a velha porta. Estava trancada. “Para onde ela teria ido?” pensou em silêncio.
– Carlos Eduardo! Eu lhe fiz uma pergunta! – O que o senhor está fazendo? Ouvimos seus gritos lá do quintal! – O que está acontecendo aqui?
O medo se apoderou do jovem que não via outra explicação se não o retorno de suas visões. Já fazia tempo que não as tinha. Tentando dissimular sua aflição virou-se dizendo para a mãe que havia visto um rato e rumou para o banheiro, onde se trancou. Abrindo a torneira, molhou o rosto – com violência – e, em seguida, olhou-se no espelho. A preocupação contida em seu semblante era praticamente palpável. Sua mãe não podia desconfiar que, assim como o pai, ele também via coisas que outras pessoas não viam. Temia acabar num hospício.
Ainda estava envolvido por estes pensamentos quando Suzana bateu à porta, pedindo ajuda para montar as camas, pois já começava a anoitecer. Lá de dentro, Eduardo respondeu que logo iria sair. Por mais uma vez jogou água contra o rosto e respirando, profundamente, desligou a torneira. “Vai ficar tudo bem!” pensou antes de deixar o banheiro.  
De fato, naquele dia, tudo ficou bem. Eduardo não tornou a ver a menina e, ajudando a mãe, até mesmo esqueceu-se do ocorrido. As estrelas já enfeitavam o manto escuro do céu quando, finalmente, terminaram de montar as camas. Como sentiam fome, Suzana tratou de preparar uma refeição rápida para que não dormissem de estômago vazio e, juntos à mesa, após breve oração, a família se fartou com uma apetitosa macarronada enquanto conversavam trivialidades. Mariana foi a primeira a sentir a exaustão da longa viagem. Dormia sentada, enquanto mãe e irmão conversavam sobre os reparos que a casa necessitava. Suzana só se deu conta quando a menina – zonza de sono – quase enfiou a cara no prato. Decidiu então encerrar a conversa e, apanhando a sonolenta caçula no colo, rumou para o quarto. Eduardo por sua vez lavou a louça, guardou as panelas e antes de tomar o caminho da cama, como de costume, tomou um copo de leite gelado. Foi somente quando se deitou que a lembrança do encontro com a misteriosa menina lhe veio à cabeça. “O que será que ela queria e por que aquela porta está trancada?” questionava-se, em silêncio, enquanto observava a dança suave que as cortinas realizavam com a brisa adentrando pela janela. Cansado, acabou adormecendo, sem encontrar respostas.
Pela manhã, despertou com a mãe pedindo que ele cuidasse da irmã enquanto ela iria até a mercearia da cidade comprar alguns mantimentos. Em meio a um bocejo Eduardo aceita o desafio e enfia o rosto novamente no travesseiro. Cerca de vinte minutos após Suzana haver partido ele finalmente se levanta. Esfregando os olhos, segue até a cozinha para preparar o café da manhã. Pão, geléia de morango, biscoitos amanteigados e leite achocolatado. Cuidadosamente colocava tudo sobre a mesa quando ouviu uma correria pela casa.
– Já tomou café, Mari? – perguntou Eduardo imaginando se tratar da irmã.
Ninguém responde.
Eduardo então vai até o quarto dela. Sobre o chão, papéis e canetinhas. Ele entra sem avistar a irmã.
– Mari! – chamou por mais uma vez.
O silêncio só é quebrado por uma risada vinda do lado de fora. Eduardo se aproxima da janela e vê Mariana se divertindo no balanço. Parece tão feliz pegando impulso, no singelo brinquedo, que ele acaba desistindo de chamá-la. Quando sentisse fome, ela mesma entraria. Por hora preferiu deixá-la a brincar.  De decisão tomada, já regressava para a cozinha quando um dos desenhos espalhados pelo chão lhe chamou a atenção. Curioso, abaixou para vê-lo mais de perto. A imagem, muito bem desenhada, o impressiona e assusta. Era a casa onde vivem tomada por chamas de um terrível incêndio.
Com o desenho nas mãos ele se levanta e, pela janela, nota o balanço agora vazio. Olha novamente para a figura da casa em chamas. Um forte arrepio percorre todo seu corpo e, sem saber a exata razão do que está sentindo, Eduardo tem a intuição de que aquilo não é nada bom e que de alguma forma tem algo haver com a misteriosa menina que vira no dia anterior. Temendo que Mariana estivesse em perigo, deixa a casa para procurá-la. Gritando por seu nome, vasculhava o terreno até que, diante da senzala, finalmente a encontra. Está parada qual uma estátua, no interior da antiga e deteriorada construção.
– O que está fazendo aqui, sozinha?                    
– Escutei vozes vindas daqui.
Imaginando que alguém pudesse ter invadido o terreno, Eduardo deixa a senzala olhando ao redor. Ninguém além deles. Ainda mais preocupado que antes, volta até ela e pergunta o que as vozes diziam, mas Mariana não sabe dizer ao certo, pois revela que eram muitas ao mesmo tempo e algumas delas eram somente gritos. Eduardo então questiona o motivo dela ter feito o desenho que ele trouxe consigo e Mariana diz ter sido uma voz de menina, em sua cabeça, que havia mandado fazê-lo. A resposta deixa Eduardo perplexo. Ele não ouvia coisas, mas apenas as via. Entretanto, lembrava que seu pai, além das visões que tinha, constantemente reclamava de vozes dentro da cabeça. Naquele instante, teve então a certeza de que sua intuição estava certa. Aquilo tinha algo a ver com a menina de olhos tristes. Rasgando o desenho, ordenou que a irmã mantivesse segredo sobre aquele assunto. Se tal informação chegasse aos ouvidos de sua mãe, ela certamente acreditaria que os dois filhos sofriam do mesmo mal que o pai.
Quando Suzana retornou com as compras, os dois já estavam dentro de casa, assistindo televisão. Sentados no sofá, Mariana não aparentava preocupação, afinal de contas, ela não dimensionava o que poderia estar acontecendo. O mesmo não podia se dizer de Eduardo que mantinha os olhos vidrados na TV, mas a mente distante. Dominado por um misto de medo e preocupação, ficava buscando respostas. A ideia de haver se mudado lhe agradava; contudo – em seu íntimo – começava a achar que tinha algo de errado com aquela fazenda.
– Carlos Eduardo! – gritou Suzana fazendo o rapaz despertar de suas reflexões.
– O-oi mãe! – gaguejou meio surpreso. Estava tão entretido em seus pensamentos que não perceberá que Mariana havia deixado o assento ao seu lado.
– Não está me ouvindo, garoto?! – Estou te chamando a um tempão.
– Desculpe! Estava distraído. – O que foi?
– Trouxe bolo de chocolate. Sua irmã já está lá na cozinha, se fartando... é melhor se apressar ou não vai sobrar nada.
– Talvez mais tarde. Não estou com fome. – respondeu se levantando. – Já que chegou, vou voltar para o meu quarto.
– Você, recusando bolo?! – Esta doente, garoto?
Eduardo esboça um leve sorriso.
– Não, mãe. Só estou ainda um pouco cansado da viagem, pois não dormi direito durante a noite.
– Tudo bem então. Vá e descanse bastante por que amanhã vou precisar de ajuda para limpar a casa.
Eduardo se despede e ruma para o quarto. Inquieto deita-se pesadamente sobre a cama e olha o relógio de cabeceira. Os ponteiros indicam 11 da manhã. Não esta com sono, no entanto, o quarto lhe garante o silêncio necessário para tentar entender o que esta acontecendo. Enquanto busca mentalmente por respostas, o tempo vai se passando. “Tem de haver um motivo!” pensa consigo quando, abruptamente, se levanta da cama, lembrando-se da porta trancada no final do corredor. “Talvez eu encontre algo por lá que esclareça tudo isso.” pensa, em seguida.
O relógio marcava 2 da tarde quando Eduardo deixou seu quarto e percorreu o trajeto que fizera na perseguição do dia anterior. Levava consigo um molho de chaves que apanhou na sala, mas desta vez encontra a velha porta destrancada. Do outro lado, degraus que levam até um escuro porão. Tateando as paredes, Eduardo vai descendo até encontrar o que parece ser um interruptor. Imediatamente ele o pressiona e a fraca luz de uma lâmpada se ascende iluminando, parcamente, o cômodo vazio. Sentindo um forte cheiro de mofo, ele caminha sobre as tábuas corridas daquele ambiente, mal arejado, até ficar diante de uma grande mancha circular sobre o chão.
– O que esta fazendo aqui embaixo?
A pergunta quebra, abruptamente, o silêncio assustando Eduardo que, com um ágil pulo, vira-se na direção das escadas.
Mariana está diante de seus olhos.
– Eu é que deveria lhe fazer essa pergunta! – retruca levando uma das mãos sobre o peito. – Quer me matar de susto?
– Mamãe mandou chamá-lo para o almoço. – Que mancha esquisita é essa? – indagou, se aproximando.
– Não faço ideia! Possivelmente jogaram algum removedor de tinta para apagar algo. – Venha! Vamos voltar lá para cima.
Decepcionado por não haver encontrado nada, ele apaga a luz e os dois sobem as escadas. Juntos seguiam pelos corredores até que, diante da porta de seu quarto, Eduardo diz que não vai almoçar. Mariana então, saltitando, segue sozinha.
  Eduardo já adentrava em seu quarto quando uma pergunta lhe aturdiu a mente.
– Mari!
Já distante Mariana se vira.
– Como sabia que eu estava no porão?
– A voz de menina me contou. – respondeu simplesmente, voltando a saltitar rumo à cozinha.
Eduardo empalideceu e antes que tivesse tempo de dizer mais alguma coisa, viu a irmã dobrar no final do corredor. Perplexo, trancou-se no quarto. Aquilo estava ficando cada vez mais estranho. Sentiu vontade de contar tudo a sua mãe, mas logo tirou a ideia da cabeça. Fazendo isso, não iria conseguir nada além de uma consulta marcada com um psiquiatra.  Suzana não acreditava em fenômenos paranormais. Era uma mulher totalmente cética quanto a isso. Precisava agir sozinho.
Aflito, andava de um lado para o outro, pensando em qual atitude deveria tomar quando notou um livro sobre a cama. Na capa, de cor vermelha, lia-se: MEDIUNIDADE. “Ué! Como isso veio parar aqui?” questionou-se apanhando o livro que pertencia ao pai. Virando-se, olhou para as caixas nas quais seus pertences estavam contidos. Todas, exceto uma, ainda estavam devidamente lacradas como haviam chegado. A caixa de livros estava aberta. A princípio imaginou que poderia ter sido sua mãe, mas não demorou muito para que descartasse essa hipótese. Ao contrário dele, Suzana não era do tipo que lia livros.
Ainda tentava solucionar o mistério quando, folheando as primeiras páginas, leu o seguinte tópico contido no sumário: AS COMUNICAÇÕES COM OS ESPÍRITOS. Invadido pela curiosidade, deitou-se sobre a cama, já iniciando a leitura do primeiro parágrafo. Passou o dia aprendendo sobre aquele assunto que até então desconhecia. Somente quando o relógio de cabeceira já marcava 11 da noite foi que finalmente decidiu parar. Colocando o livro sobre o criado mudo, acomodou-se para dormir e, em menos de dez minutos, caiu no sono; todavia, seu descanso foi interrompido às 3 da manhã ao som de fortes batidas à porta. Com a vista meio embaçada olhou para o relógio.
Irritado e protestando, levantou e foi abrir a porta:
– Mãe, por acaso você já viu que horas são? – disse ainda sonolento, mas não havia ninguém do outro lado.
Esticando o pescoço para fora do quarto, procurou avistar o responsável pelas estrondosas batidas. Deparou-se com o extenso corredor vazio. Confuso, tentou cogitar o que teria acontecido, mas, como estava embriagado de sono, desistiu.  Já pensava em voltar para a cama quando ruídos vieram da cozinha.
– Mãe?!
O silêncio preponderou.
De modo imediato, voltou para dentro do quarto, apanhou um velho castiçal de bronze e então saiu. Tinha mais alguém acordado naquela casa e definitivamente não era Suzana, do contrário ela teria respondido ao chamado do filho. Segurando firmemente o objeto metálico pela haste, ele foi avançando de maneira furtiva. Pé ante pé, se aproximava da cozinha sentindo um misto de adrenalina e medo. Já estava bem próximo quando tornou a ouvir os ruídos de alguém mexendo nas louças e prateleiras. Ficou ainda mais assustado, mas, invadido por um ímpeto de coragem, Eduardo correu, ingressando pela escura cozinha. O braço estendido ao ar, preparado para golpear um possível ladrão, desceu sem entrar em ação. Estava sozinho diante de todas as portas e gavetas do armário, escancaradas. 
Com o castiçal, coça a cabeça, intrigado.
Sem que tivesse tempo de entender os fatos, ouve o som da TV ligada e, ligeiro, se desloca até a sala, munido da arma com a qual pretendia proteger a casa. No amplo cômodo, somente ele iluminado pela luz dos chuviscos na tela do televisor. Perturbado com aquela situação, desliga o eletrodoméstico e, em seguida, percorre os demais cômodos da casa procurando saber quem estava por trás daquilo. Não encontrou nada. Voltando para o seu quarto, verificou ainda se estava tudo bem com Suzana e Mariana. As duas dormiam tranquilamente. Diante da cena, sentiu uma pontada de inveja. Também gostaria de ter um sono pesado. Vagarosamente, foi caminhando. Já estava entrando em seu quarto quando sentiu uma presença no final do corredor. Sentiu medo, mas a curiosidade falava mais alto. De soslaio, notou que realmente tinha alguém ali. “Como é possível?” questiona-se, paralisado. Havia passado por todos os cômodos sem avistar ninguém. Assustado, aperta ainda mais a haste do castiçal e, lentamente, gira a cabeça na direção da presença sentida e um sinistro calafrio lhe percorre toda a espinha.
Com os olhos arregalados, vê a menina, vestida em trapos, a observá-lo. Eduardo sente um forte desejo de entrar e se trancar e já estava prestes a tomar essa atitude quando, no último instante, desistiu de fazê-lo. Aquilo tinha que acabar de uma vez por todas. Após um delongado suspiro, inicia os primeiros passos na direção da garotinha de aspecto sombrio. À medida que, lentamente, avançava pelo extenso corredor, recordava-se de alguns trechos que tinha lido no livro que encontrará em sua cama. Lembrava, vagamente, de algo sobre espíritos conseguirem efetuar diferentes graus de comunicação com indivíduos sensitivos denominados como médiuns. Tinha lido também uma determinada parte mais específica para o seu caso. Chamava-se clarividência a capacidade de enxergar o plano extrafísico. Através desta faculdade, embora não pudesse ouvi-los, Eduardo podia ver espíritos.
 Enquanto avançava, com várias passagens do livro lhe vinho à memória, a menina permanecia parada. Eduardo sentia medo, mas de alguma forma algo o encorajava a ir adiante. Quando faltavam pouco mais de dois metros a misteriosa garotinha iniciou a andar e, sem hesitar, ele a seguiu. Num angustiante silêncio, foram avançando até que por fim estacaram diante da porta de acesso ao porão. Eduardo girou a maçaneta e a menina voltou a caminhar. Lá embaixo, ele tateou a região da parede onde lembrava estar o interruptor e após alguns segundos conseguiu encontrá-lo. Iluminados pela fraca luz ambiente os dois continuaram e só pararam novamente diante da grande mancha.
Eduardo pensou em perguntar o sentido daquilo, mas, antes que pudesse abrir a boca, a menina o segurou pelo braço fazendo-o sentir uma espécie de choque convulsivo. Seus olhos viraram ficando completamente brancos enquanto seu corpo estrebuchava violentamente.  Enquanto sentia o contado da mão fria da menina, uma espécie de filme começava a passar em sua cabeça. Viu-se no interior do que aparentava ser o mesmo porão, porém, mobiliado e iluminado por inúmeras velas que, espalhadas pelo chão, davam um toque macabro ao ambiente. Era possível notar que sobre o local onde lembrava haver uma mancha, agora existia um enorme pentagrama com uma menina amarrada no centro. Devido à distância, não conseguiu distinguir quem era e, quando pensou em se aproximar, avistou um homem caucasiano e robusto, trajando vestes antigas, ingressar pelo porão acompanhado de mais duas mulheres, que também usavam roupas que pareciam ser da época colonial. Naquele instante Eduardo percebeu que era como se ele não estivesse ali, pois as pessoas não notavam sua presença. 
O homem robusto se posicionou em frente ao pentagrama e iniciou a leitura de um livro de capa preta com a gravura do mesmo símbolo desenhado sobre o chão. Ele lia, em voz alta, enquanto as duas mulheres seguravam a menina pelos braços e pernas para garantir que não conseguisse escapar. Eduardo não entendia o significado daquilo; todavia, a cena causou-lhe uma enorme sensação de angustia. Sem saber que o pior ainda estava por vir, continuou assistindo. Quando finalmente o homem terminou de ler, fechou o livro, avançando para o interior do pentagrama. Com calma, agacho-se ao lado da menina que tinha os gritos abafados por uma mordaça e então sacou, da cintura, um afiado punhal de cabo dourado. Desesperada, a criança se debatia com lágrimas vertendo os olhos. As mulheres se esforçavam para conter o ímpeto da menina em escapar. Sem perder tempo, o sujeito robusto então se colocou sobre a menina e ergueu a arma que em seguida desceu, velozmente, contra o frágil peito da jovem vítima, transpassando-o. O golpe fora tão brutal que respingos de sangue atingiram os rostos das duas moças que só então afrouxaram a força. A menina está morta.
Diante da imagem chocante, Eduardo grita e grita até que, sentindo seu corpo sacolejar, por diversas vezes, ele finalmente volta à realidade. Está deitado sobre o chão do porão vazio, com sua mãe a segurá-lo, firmemente, pelos ombros.
Eduardo chora.
– Graças a Deus! Pensei que fosse perdê-lo, meu filho! – balbuciou Suzana, em meio às lágrimas, abraçando Eduardo que havia acabado de sofrer uma convulsão extremamente semelhante às que seu falecido marido, por vezes, também sofria. 
Mãe e filho permaneceram abraçados por mais de uma hora.
Somente quando o dia já está por amanhecer é que os dois deixam o porão. Em silêncio, Suzana acompanhou Eduardo até o quarto e o colocou na cama. Sentindo-se, extremamente cansado, o rapaz não demora a pegar no sono. Só após se certificar que o filho realmente dormira, Suzana volta para o seu quarto e a primeira coisa que faz é apanhar o livro do plano de saúde. Procurando por psiquiatras, começa a folheá-lo. Encontra um, mas em seguida olha no relógio e vê que ainda é muito cedo para ligar. Resolve então, munida de folha e caneta, anotar o nome e o número telefônico de todos os médicos psiquiatras da redondeza. Só então se deita, contudo, antes de adormecer, fez uma fervorosa oração pedindo a Deus para que seu filho não houvesse herdado a patologia do pai.    
Poucas horas após o alvorecer, Eduardo desperta, ouvindo o som de móveis sendo arrastados. Imediatamente lembra ter prometido à mãe que iria ajudá-la na arrumação da casa. O barulho indicava que Suzana já havia começado. Disposto a ajudar, levantou-se rapidamente, mas, segundos depois, voltou para a cama.  Não estava se sentindo muito bem. Decidiu ficar ali mesmo e, fechando os olhos, tentou dormir novamente, mas o som insistente dos móveis sendo arrastados de um canto para o outro, não permitam que conseguisse.
Eduardo terminou por desistir da ideia de permanecer na cama e, em meio a um bocejo, se levantou seguindo para o banheiro. Ainda sonolento, pretendia lavar o rosto, mas seu plano para tentar despertar de vez teve de ser adiado. A porta do banheiro estava trancada. Do outro lado, a voz da Mari, cantarolando no banho. Pensou em bater, mas decidiu não se estressar. Ao invés disso, seguiu para a cozinha e, no meio do caminho, deparou-se com a porta, entreaberta, do quarto da mãe. Pela fresta avistou o telefone celular, sobre a cama, e imediatamente sentiu-se tentado. Sem fazer barulho, adentrou e, apanhando o aparelho, procurou pelo nome Alberto. Era um dos primeiros da lista.  Sem demora apertou o botão de discagem.
Enquanto chamava, sentou sobre a cama, folheando um livro que estava sobre o criado mudo. Lembrava que Alberto era o nome do corretor com quem sua mãe havia realizado toda a negociação da compra da fazenda e, realizando aquela ligação, pretendia colher alguma informação a respeito do passado da casa. O telefone chamou e chamou até por fim cair na caixa postal. Eduardo pensou em ligar novamente, mas algo o surpreendeu tanto que acabou mudando de ideia. Do interior do livro que folheava, caiu um papel com uma sequência de números telefônicos de médicos e suas especialidades. Todos, psiquiatras. De imediato, Eduardo conclui que sua mãe já planeja levá-lo para fazer uma consulta. Dominado pela revolta, amassa vigorosamente o papel e o atira pela janela. Presumindo que foi daquele livro de plano de saúde que Suzana conseguiu os números ele o toma para si.
Neste ínterim, Mariana – já fora da banheira – se enrolava na toalha quando, ouvindo uma voz, olha na direção do espelho, embaçado pelo vapor do banho quente que tomara. Um grito, histérico ecoa pela casa. Eduardo deixava o quarto da mãe quando escuta o berro estridente da irmã. Imediatamente corre na direção do banheiro. Paralisada de medo, Mariana só consegue movimentar as pernas após ouvir as batidas à porta. Célere, remove a tranca.
Eduardo ingressa e a menina, nitidamente apavorada, o abraça.
– O que foi Mari?   
Trêmula, Mariana aponta para o espelho onde Eduardo lê a seguinte frase, em letras garrafais: VÃO EMBORA!
O rapaz sente um arrepio transpassar o corpo ao mesmo tempo em que ouve passadas no corredor. Suzana se aproximava. Rapidamente, passa a mão sobre a mensagem contida no espelho, apagando-a completamente.
– O que aconteceu?! – pergunta Suzana, ofegante, após correr todo o extenso corredor.
Por um breve instante o silêncio prevalece.
– Um rato! – responde Eduardo enfim. – Mari viu um rato, no banheiro.
– Minha nossa! Que susto você me deu, menina! – exclama a mãe que, devido ao grito, imaginava algo mais grave. – É melhor eu resolver esse problema logo. – continua, em seguida. – Vou até o mercado ver se arrumo algumas ratoeiras. – Pode cuidar da sua irmã até eu voltar?        
– Sim.
– Ótimo! Não vou demorar. – conclui Suzana que já saia quando viu seu livro do plano de saúde numa das mãos de Eduardo. – O que faz com o meu livro? – pergunta intrigada.
– Ah... nada demais! – Estava me sentindo um pouco enjoado, aí pensei em marcar uma consulta... – improvisa.
– Tudo bem! Mas depois coloque-o no lugar. – Estarei de volta dentro de alguns minutos.
Suzana se despede e, assim que parte, Eduardo coloca a irmã no chão e joga o livro na lixeira. Mais calma Mariana revela que não foi somente a mensagem no espelho que a tinha assustado. A voz de menina também estava lá e dizia para que fossem embora, caso contrário, o homem mal e sua família iriam acabar se dando conta de que eles estavam vivendo ali. 
Ao ouvir aquilo, Eduardo se lembra do homem robusto que viu, no porão, assassinando uma criança. Começa a sentir medo do que pode acontecer com ele e sua família. Mariana inicia a chorar e ele a toma nos braços novamente. Juntos, os dois saem da casa. Cuidadosamente, coloca a irmã no balanço e diz que vai até a igreja local. Com medo de ficar sozinha, ela diz que vai junto, mas Eduardo pretende ser ligeiro, pois sua mãe não pode desconfiar de nada. Ainda pequena, Mariana só iria retardar a viagem. Com um pouco de paciência consegue convencê-la a ficar e a não entrar, em hipótese alguma, na casa. Só então ele parte.
Correndo, Eduardo deixa a fazenda, transpondo uma longa estrada de chão. Em pouco tempo atinge a bendita igreja. Na entrada da bela construção, encontra o padre que, sentado, parecia ver a hora passar. Resfolegando, se identifica e sem delongas vai direto ao assunto. Tendo explicado tudo, o padre revela que a casa precisa ser exorcizada e prontamente se mostra disposto a ajudá-lo; entretanto, assim que fica sabendo o endereço, muda de ideia. Diz, entre outras coisas, que aquele terreno guarda muitas desgraças e que a fé de nenhum homem seria capaz de purificá-la. Eduardo não acredita estar ouvindo aquilo da boca de um padre. Pouco a pouco, o velho ancião vai contando o terrível passado daquela residência. Foi no ano de 1570 que a grande tragédia aconteceu. Os escravos do engenho, provavelmente rebelados pelos maus tratos que recebiam, atearam fogo na casa, matando o senhor Eulálio, dono do engenho, e sua família. Tentaram fugir após o crime cometido, mas, indignado com tamanha perversidade, o povo da cidade os caçou, levando todos de volta para a senzala, onde foram punidos com a morte. Nem mesmo as mulheres e crianças foram poupadas. Todos os escravos daquele velho engenho tiveram suas vidas ceifadas por tiros à queima roupa. Uma verdadeira chacina.
Eduardo fica chocado com o teor das informações, mas aflito, acaba decidindo interromper o velho padre, pedindo por orientação. Se não podia recorrer à fé, que atitude deveria tomar então? O padre é sucinto: Deixar a fazenda o quanto antes. Amedrontado, Cadu retorna disposto a contar tudo a sua mãe. Precisavam partir antes que as coisas piorassem, contudo, de volta a casa, encontra Suzana e Mariana – perplexas – na entrada da cozinha. Pasmas, as duas olham para os móveis, todos empilhados de forma assombrosa, no centro da cozinha.
– O que você fez? – pergunta Suzana ao filho que acaba de chegar.
Eduardo, igualmente espantado, nega a autoria e diz terem sido os espíritos que vivem naquela casa.
Suzana fica indignada.
– Eu vou levá-lo ao psiquiatra, amanhã mesmo! Você está falando igualzinho ao seu pai.
– Não preciso de médico! Eu não tenho esquizofrenia. Não sou louco! – retruca Eduardo, irritado.
– Seu pai dizia a mesma coisa e acabou se suicidando! Não vou perder você também!
Mariana ameaça falar algo, mas, fazendo um gesto com cabeça, Eduardo a desestimula. Já basta um filho ser julgado como louco.
– Está decidido! Amanhã eu vou levá-lo ao médico!
Eduardo tenta insistir, mas Suzana é irredutível. Prometendo cumprir com a palavra, arrasta e coloca o filho no quarto. Trancado pelo lado de fora, o deixa de castigo.  A contragosto o rapaz se vê obrigado a passar o restante do dia preso. O tempo de fugir estava em seu limite, pois Eulálio e sua família começavam a perceber a vibração espiritual de encarnados na casa.
Cética quanto à existência de assombrações, Suzana reorganiza todos os móveis da cozinha. Quando finalmente termina, o trabalho que exige intenso esforço braçal, ela decide tomar um banho para esfriar a cabeça. No banheiro, abre a torneira e, enquanto espera a banheira encher, senta sobre o chão levando as mãos sobre o rosto num típico gesto de cansaço. Parece não acreditar que as coisas estão se repetindo. A água ainda está pela metade quando ela tira os brincos e se levanta para colocá-los sobre a pia, contudo, leva um susto tão grande que os deixa cair ao chão. Pelo reflexo do espelho viu a imagem de um homem carbonizado atrás dela. De imediato, Suzana se vira. Esta sozinha no banheiro.
Acreditando ter ficado, de certa forma, impressionada com a estória de espíritos, ela entra na banheira, abre ainda mais a torneira e imerge o corpo inteiro na tentativa de relaxar. “Levaria o filho o quanto antes a um especialista, do contrário seria ela a ficar louca”. Pensava, com os olhos cerrados, e ainda submersa, até que tendo a estranha sensação de estar sendo observada, abre os olhos e, de baixo d’água, vê novamente o homem carbonizado que desta vez a ataca, enforcando-a. Apavorada ela se debate, mas seu esforço é inútil. Sem desconfiar que a mãe corria perigo, Mariana desenhava em seu quarto, quando é alertada pela voz de menina. Rapidamente, ela larga o que esta fazendo e vai até o banheiro. Vendo a água que começa a sair por debaixo da porta, Mariana chama pela mãe, que não responde. O silêncio a deixa preocupada e, correndo, vai até o quarto do irmão, destranca a porta e explica tudo à Eduardo que disparada a correr pelo corredor e, sem pensar duas vezes,  arromba a porta encontrando o banheiro completamente alagado. Célere, ele avança até a banheira onde encontra o corpo da mãe a flutua, inerte. Desesperado o rapaz tenta socorrê-la, mas não há mais o que fazer. Suzana está morta. Ao seu lado, Mariana chora e antes mesmo que Eduardo tivesse tempo de consolá-la, a menina é bruscamente arrancada, para fora do banheiro, por uma força invisível.
Sendo arrastada pelos corredores, Mariana é levada para o porão. Eduardo tenta alcançá-la, mas a velha porta se trancar, impedindo sua passagem. Os gritos de socorro da irmã ecoam lá de dento e, insistentemente, ele tenta arrombar a porta que, estranhamente, não cede aos seus golpes. Com lágrimas nos olhos, continua tentando, mas a porta só cede quando os gritos de Mariana não são mais ouvidos. Rapidamente, ele desce, liga o interruptor e se depara com a irmã – coberta em sangue – sobre o centro de um enorme pentagrama, situado onde antes era somente uma mancha. Ele a toma nos braços, tentando fazê-la abrir os olhos, mas é tarde demais. A menina, vestida em trapos, então aparece. Eduardo nota que ela também tem lágrimas nos olhos.
Sem dar nenhuma palavra a menina estende os braços como se desejasse um novo contato com aquele encarnado. No primeiro momento, Eduardo hesita, mas acaba cedendo. Após sentir o forte impacto daquele contato, novamente se vê no porão mobiliado onde o homem robusto assassina uma pobre criança que agora, estando mais de perto, nota ser a menina dos olhos tristes. Nesta segunda oportunidade, Eduardo percebe que não é o único a testemunhar aquele crime. Do lado de fora da casa, por uma pequena janela de ventilação, um garotinho negro, aparentemente mais velho que Mariana, observa a tudo. De repente, uma enxurrada de informações começa a invadir a cabeça de Eduardo, numa velocidade alucinante. A menina que lhe mostrava tudo aquilo era uma escrava daquele engenho e havia sido vítima de um ritual satânico. O garotinho que observava da janela de ventilação era seu irmão que fugira da senzala para procurá-la. Sem desconfiar que tinham sido vistos, Eulálio e sua família foram dormir enquanto o menino regressa à senzala para revelar o que seus olhos haviam testemunhado.
Naquela mesma noite, os escravos, revoltados com tamanha perversidade, atearam fogo na casa. As chamas se alastraram rapidamente e nem Eulálio tampouco sua mulher e filha, tiveram tempo de sair. Após fazerem justiça com as próprias mãos, os escravos fugiram da fazenda, mas foram recapturados pelos moradores das redondezas. Estes, desconhecendo os motivos que levaram os escravos a queimar a casa de engenho, arrastaram todos para o interior da senzala e lá, puniram-nos com a morte. Uma verdadeira tragédia manchava o solo daquela fazenda e agora Suzana e Mariana também faziam parte disso.
Caído ao chão, Eduardo volta a si.
A menina desaparecera. No porão, somente ele, o corpo sem vida de Mariana e duas mulheres carbonizadas vindo em sua direção. Imediatamente Eduardo se coloca de pé e corre. Desesperadamente, sobe as escadas e, lá em cima, segue velozmente pelos corredores. Não pretendia permanecer nem mais um minuto naquela casa maldita. Já estava prestes a atingir a saída, quando – na cozinha – esbarra contra um homem, alto de pele completamente queimada, que o agarra firmemente pelo pescoço. Enquanto luta para se soltar, Eduardo sente o cheiro de podridão que exala daquela figura horrenda. Sem conseguir escapar, começa a sufocar. A vista já escurecia quando uma forte ventania invade a casa trazendo inúmeros espíritos de escravos junto com ela. Na dianteira, a menina de olhos tristes. Atravessando paredes, portas e móveis as entidades adentram pela cozinha imobilizando Eulálio, temporariamente.
Arfando e tossindo, Eduardo cai sobre o chão.
Utilizando-se do ectoplasma do jovem encarnado, a menina rapidamente aciona todas as bocas do fogão. Uma quantidade enorme de gás começa a escapar. Eduardo se levanta e a garotinha aponta para a porta indicando que ele fugisse. Assim ele faz e, instantes após deixar a residência, ouve um forte estrondo que o arremessa ao chão. Novamente as paredes daquela imensa casa são tomadas pelo fogo. O barulho e a nuvem de fumaça alertam os vizinhos que, rapidamente, se reúnem para tentar apagar as chamas, mas o esforço é inútil.
         Eduardo, único sobrevivente, após testemunhar o que aconteceu na casa, foi encaminhado para um hospício onde até hoje está internado. Por muito tempo o assunto foi comentado pela população local, contudo, após algumas décadas o caso caiu no esquecimento e a mesma imobiliária que havia realizado a venda do terreno, reformou o que restou do imóvel e publicou anúncios de venda da propriedade nos diversos meios de comunicação. A casa e o terreno, manchado pelo ódio, estão no aguardo de suas próximas vítimas.

Por Thiago Tavares.
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