Por Thiago Tavares
No
Brasil colonial, período do auge da crendice folclórica e no qual nosso país
não passava de uma extensão maltratada de Portugal, é que esta obra se
desdobra. A iniciar por um prólogo já tomado de boa dose de ação, os leitores
são convidados a conhecer as páginas que relatam anos sombrios onde superstição
e realidade misturavam-se com extrema facilidade. É através de Catarina, mulher
viúva ainda detentora dos resquícios de uma beleza desgastada na dura tarefa de
administrar sua humilde roça, ao lado de Rosário, sua única escrava, que
Achiles nos concede o primeiro contato de sua ficção. Aparentemente uma
existência feminina comum, mas que guarda um grande segredo consigo. Algo que se mantém oculto,
sob uma espécie de hibernação, durante os sofridos dias da semana, mas que se
inflama e se mostra com toda sua força fulgente nas madrugadas de sextas-feiras.
Corpos
tisnados pelo fruto de uma união condenada são encontrados a cada nova manhã de
sábado, gerando o caos e o medo nos habitantes de Taubaté que desconhecem o
rosto do responsável direto por tamanha atrocidade. Um mistério que Gregório – altivo
e experiente mestre de campo – necessita solucionar para alcançar uma almejada
promoção e evitar a instalação do pandemônio na vila. Seus suspeitos pelos
assassinatos são os bugres – em sua teoria, selvagens em protesto pela invasão
dos lusitanos às suas terras – todavia, mesmo após perseguidos e sob severo
suplício, nenhum índio sequer assume a autoria dos crimes que aterroriza a vila.
Diante da dificuldade para solucionar o caso o militar se depara com sua
autoridade e competência contestadas pela Casa de Câmara e pelo próprio povo
que, como ratos acuados, desaparecem das ruas após o toque de recolher. Uma
gente assustada que ignora a punição Divina lançada sobre um padre –
atormentado pelo remorso – e sua concubina, castigada com uma terrível
maldição. A perturbadora realidade, no entanto, é descoberta pelo forasteiro
Diogo Durão de Meneses, o protagonista da trama, que acompanhado de dois
escravos – João e Inácio – chega a Taubaté acreditando haver sido orientado até
o local pelo espírito de Tiago, seu filho, morto acidentalmente pelas suas
próprias mãos há quatro anos. Lembranças dolorosas que o envolvem em um misto
de amargor e arrependimento pela sinistra escolha que lhe acarretou não
somente a separação da única prole, mas também da alma. Um pacto que jamais
deveria haver firmado e que o torna uma criatura tão amaldiçoada quanto a que
está destinado a encontrar nas imediações da vila de Taubaté.
É no mar deste embate entre duas almas em
danação que todo o enredo termina por desaguar. São 57 capítulos que, divididos
de maneira sucinta, foram cuidadosamente lapidados pelo autor que se preocupou
com detalhes minuciosos, concedendo-nos a oportunidade de mergulhar em
tradições, hábitos, crenças e diálogos recheados de um linguajar típico de uma
época antiga. Uma obra sagazmente montada ora apresentando detalhes sobre uma
personagem, ora sobre outra, permitindo uma leitura onde os pormenores da vida
de cada um deles sejam revelados sem que as informações se tornem um fardo
para o leitor.
Julgo
ainda importante mencionar que Danação
é um romance de cunho fantástico que nos remete a reflexão através dos diversos
trechos nos quais evidencia-se a facilidade do homem de ser corrompido seja pelo poder, riqueza
ou mesmo pelos prazeres da carne. Um jovem padre atormentado pela
luxúria, escravos e senhor notadamente a estreitar laços de amizade e o próprio
Diabo a acompanhar Diogo (protagonista) transvestido da imagem da criatura que
o jovem mais amou na vida, são alguns dos elementos que fazem deste livro uma ótima
recomendação de leitura.
Vale
ressaltar por fim que Danação é o primeiro volume de um projeto onde o autor pretende
conduzir Diogo numa jornada pelo interior de uma colônia repleta de criaturas
folclóricas. Uma informação que deixou-me com grande expectativa e que
certamente deixará aqueles que, assim como eu, também venham a se atrever a conhecer as
páginas deste primeiro romance de Marcus Achiles.
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O Autor |
Marcus Achiles tem 43
anos é jornalista e servidor público. Mora em Brasília com sua esposa e seu
filho. Danação é seu primeiro romance e foi publicado pela primeira vez em
2008.
Editora: Baraúna
Autor: Marcus Achiles
ISBN: 978-85-7923-487-3
Formato: 16 x 23 cm
Título: Danação
Ano: 2011
Páginas: 409
Obrigado pelo entusiasmo em relação à saga de Diogo, Thiago. E pela gana com que leu o "Danação". O livro é mesmo uma viagem no tempo, e acho que você, como eu, conseguiu ver a si mesmo nesse Brasil antigo de crendices e crueza.
ResponderExcluirAbraços
Marcus Achiles
Sem dúvida foi uma satisfação ler seu livro. Uma obra que se tornou uma de minhas favoritas.
ExcluirAguardo pela continuação.
Abraços!
Marcus Achiles, uma das pessoas mais sagazes, inteligentes e de humor refinado que já conheci. Claro que o livro dele não seria diferente. Recomendo cada página!
ResponderExcluirOlá Thiago,a Editora Baraúna fica muito feliz que você tenha gostado do livro Danação. Este livro tem despertado um grande interesse do público.
ResponderExcluirO livro taz uma temática diferente da que estamos acostumados a ver nos livros atuais e resgata o Folclore Brasileiro.
Abraços,
Editora Baraúna