quinta-feira, 21 de junho de 2012

Danação (Resenhas)

Por Thiago Tavares

No Brasil colonial, período do auge da crendice folclórica e no qual nosso país não passava de uma extensão maltratada de Portugal, é que esta obra se desdobra. A iniciar por um prólogo já tomado de boa dose de ação, os leitores são convidados a conhecer as páginas que relatam anos sombrios onde superstição e realidade misturavam-se com extrema facilidade. É através de Catarina, mulher viúva ainda detentora dos resquícios de uma beleza desgastada na dura tarefa de administrar sua humilde roça, ao lado de Rosário, sua única escrava, que Achiles nos concede o primeiro contato de sua ficção. Aparentemente uma existência feminina comum, mas que guarda um grande segredo consigo. Algo que se mantém oculto, sob uma espécie de hibernação, durante os sofridos dias da semana, mas que se inflama e se mostra com toda sua força fulgente nas madrugadas de sextas-feiras.

Corpos tisnados pelo fruto de uma união condenada são encontrados a cada nova manhã de sábado, gerando o caos e o medo nos habitantes de Taubaté que desconhecem o rosto do responsável direto por tamanha atrocidade. Um mistério que Gregório – altivo e experiente mestre de campo – necessita solucionar para alcançar uma almejada promoção e evitar a instalação do pandemônio na vila. Seus suspeitos pelos assassinatos são os bugres – em sua teoria, selvagens em protesto pela invasão dos lusitanos às suas terras – todavia, mesmo após perseguidos e sob severo suplício, nenhum índio sequer assume a autoria dos crimes que aterroriza a vila. Diante da dificuldade para solucionar o caso o militar se depara com sua autoridade e competência contestadas pela Casa de Câmara e pelo próprio povo que, como ratos acuados, desaparecem das ruas após o toque de recolher. Uma gente assustada que ignora a punição Divina lançada sobre um padre – atormentado pelo remorso – e sua concubina, castigada com uma terrível maldição. A perturbadora realidade, no entanto, é descoberta pelo forasteiro Diogo Durão de Meneses, o protagonista da trama, que acompanhado de dois escravos – João e Inácio – chega a Taubaté acreditando haver sido orientado até o local pelo espírito de Tiago, seu filho, morto acidentalmente pelas suas próprias mãos há quatro anos. Lembranças dolorosas que o envolvem em um misto de amargor e arrependimento pela sinistra escolha que lhe acarretou não somente a separação da única prole, mas também da alma. Um pacto que jamais deveria haver firmado e que o torna uma criatura tão amaldiçoada quanto a que está destinado a encontrar nas imediações da vila de Taubaté.

 É no mar deste embate entre duas almas em danação que todo o enredo termina por desaguar. São 57 capítulos que, divididos de maneira sucinta, foram cuidadosamente lapidados pelo autor que se preocupou com detalhes minuciosos, concedendo-nos a oportunidade de mergulhar em tradições, hábitos, crenças e diálogos recheados de um linguajar típico de uma época antiga. Uma obra sagazmente montada ora apresentando detalhes sobre uma personagem, ora sobre outra, permitindo uma leitura onde os pormenores da vida de cada um deles sejam revelados sem que as informações se tornem um fardo para o leitor.   

Julgo ainda importante mencionar que Danação é um romance de cunho fantástico que nos remete a reflexão através dos diversos trechos nos quais evidencia-se a facilidade do homem de ser corrompido seja pelo poder, riqueza ou mesmo pelos prazeres da carne. Um jovem padre atormentado pela luxúria, escravos e senhor notadamente a estreitar laços de amizade e o próprio Diabo a acompanhar Diogo (protagonista) transvestido da imagem da criatura que o jovem mais amou na vida, são alguns dos elementos que fazem deste livro uma ótima recomendação de leitura.

Vale ressaltar por fim que Danação é o primeiro volume de um projeto onde o autor pretende conduzir Diogo numa jornada pelo interior de uma colônia repleta de criaturas folclóricas. Uma informação que deixou-me com grande expectativa e que certamente deixará aqueles que, assim como eu, também venham a se atrever a conhecer as páginas deste primeiro romance de Marcus Achiles. 

O Autor

Marcus Achiles tem 43 anos é jornalista e servidor público. Mora em Brasília com sua esposa e seu filho. Danação é seu primeiro romance e foi publicado pela primeira vez em 2008.






Editora: Baraúna
Autor: Marcus Achiles
ISBN: 978-85-7923-487-3
Formato: 16 x 23 cm
Título: Danação
Ano: 2011
Páginas: 409

4 comentários:

  1. Obrigado pelo entusiasmo em relação à saga de Diogo, Thiago. E pela gana com que leu o "Danação". O livro é mesmo uma viagem no tempo, e acho que você, como eu, conseguiu ver a si mesmo nesse Brasil antigo de crendices e crueza.
    Abraços
    Marcus Achiles

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    Respostas
    1. Sem dúvida foi uma satisfação ler seu livro. Uma obra que se tornou uma de minhas favoritas.
      Aguardo pela continuação.
      Abraços!

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  2. Marcus Achiles, uma das pessoas mais sagazes, inteligentes e de humor refinado que já conheci. Claro que o livro dele não seria diferente. Recomendo cada página!

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  3. Olá Thiago,a Editora Baraúna fica muito feliz que você tenha gostado do livro Danação. Este livro tem despertado um grande interesse do público.

    O livro taz uma temática diferente da que estamos acostumados a ver nos livros atuais e resgata o Folclore Brasileiro.

    Abraços,

    Editora Baraúna

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