Por
Thiago Tavares
A Maldição da Lua – obra de estreia de Alexander Zimmer – se
desdobra pelas terras do sertão, num vilarejo simples e demasiadamente distante
do progresso industrial. Cirino do Araçá, assim chamado pelo araçazeiro de seu
quintal, é quem nos guia através destas bandas pueris onde praticamente todo
homem vive de pouco ou quase nada. Em seu nome de registro carrega apenas o
sobrenome materno: Cirino dos Santos. Desde menino guarda o desejo de saber
mais a respeito do sujeito que, após a noite de núpcias, desaparecerá no mundo
sem deixar rastros; todavia, as informações cedidas pela mãe – carregadas de
respeito e veneração – sempre foram demasiadamente parcas. Cresceu então
levando consigo um vazio que somente conhecem aqueles que não tiveram a figura
paterna ao lado.
A
vida simplória do jovem protagonista de 26 anos se resume, ou pelo menos se
resumia em grana curta, despensa escassa e barriga vazia. Cirino do Araçá mal
tinha o que comer e até já guardava certa intimidade com a fome quando ficou
sabendo pelo Zé, compadre de longa data, a respeito de um serviço recusado por
muitos na fazenda do coronel Terêncio, homem duro, poderoso, de poucas palavras
com seus empregados e envolto de lendas a seu respeito, inclusive até mesmo de haver
enfrentado o próprio “demônio” e o aprisionado numa garrafa. Mesmo ciente dos
boatos sobre uma criatura enviada diretamente do inferno a rondar as terras de
Terêncio em busca de vingança, Cirino não recusa o trabalho, afinal, precisa de
dinheiro para se manter e além disso, também não é homem de se deixar levar por
crendices do povo. Diferentemente da maioria, Cirino tinha alguma instrução –
herança deixada pela mãe, professora primária, com quem aprendera tudo o que
sabia – e por isso não costumava se deixar levar por qualquer história saída da
boca daquela gente dominada por supertições. Não era de debochar das crendices
e tampouco duvidar das coisas do além, contudo, era homem de razão aflorada e
costumava refletir sobre as coisas que lhe chegavam aos ouvidos. Sem titubear, então
ele aceita realizar o serviço simples que lhe permitirá forrar o estômago já
acostumado a viver de migalhas. Uma decisão que acaba por aproximá-lo do amor e
ao mesmo tempo do perigo de uma maldição.
Cirino
trabalha com presteza, mas o serviço é demorado e por isso acaba tendo de
regressar outros dias à bendita fazenda onde conhece Luciana, a jovem caçula do coronel, por quem se encanta logo a primeira vista, porém, também terrível
fazenda onde, por experiência própria que quase lhe custara a própria vida,
toma conhecimento de que a existência do lobisomem é verídica. Rapidamente, a notícia
do rapaz que conseguira escapar das garras do “tinhoso” alcança o vilarejo e
logo Cirino fica afamado como o homem que enfrentou um enviado do inferno.
Em meio aos boatos que percorrem de boca a
boca, a história vai recebendo incontáveis “acessórios”, alguns deles fazendo o
simples e jovem protagonista parecer um verdadeiro guerreiro. Cirino acha graça
da criatividade daquela gente e inicialmente nem se importa com todas aquelas
invencionices, pois Luciana já lhe toma boa parte dos pensamentos. Vê-se
apaixonado e para sua surpresa, um sentimento correspondido na mesma
intensidade, no entanto, ele se esforça para não alimentar falsas esperanças
numa relação, a seu ver, impossível, pois era homem humilde e Luzinha filha do
sujeito mais poderoso do vilarejo. Seu coração, no entanto, se recusa a
obedecê-lo, mas precisa se render a uma trégua, pois Cirino acaba tendo
problemas maiores com o lobisomem que, sedento de sangue, torna a procurá-lo.
Novamente
o rapaz escapa por um triz. Temendo um novo ataque e seguindo o conselho do
amigo Zé, acaba indo até a casa de D. Cambinda, uma senhora rezadeira que lhe
permite comunicação com entidades espirituais que estão a protegê-lo. Com o
auxílio da espiritualidade, Cirino então ganha força extra para enfrentar o
mal, todavia, algumas surpresas a ele estão reservadas. Algumas capazes de
submetê-lo a um profundo misto de tristeza e revolta, como, por exemplo, a
morte de um pequeno amigo pelas garras da abominável criatura meio
cão, meio homem; outras capazes surpreender verdadeiramente não somente Cirino, mas também os leitores.
A
Maldição da Lua é um livro de leitura agradável, carregado de diálogos com o
típico linguajar interiorano do sertão. Dotada de um vocabulário simples, a
trama é bem amarrada, permitindo assim uma leitura rápida e envolvente. A obra certamente é uma ótima opção aos que apreciam a linha da fantasia, permitindo momentos de aventura, suspense além é claro de um bom romance.
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O Autor |
Massoterapeuta,
ator, diretor, cantor, poeta, webdesigner, blogueiro e roteirista, Alexander Zimmer estreia como escritor com o livro “A Maldição da Lua”. Optando pela
temática folclórica e fantasia, busca resgatar valores e lendas regionais de um
Brasil que parece estar sendo peremptoriamente esquecido e apagado da cultura
popular nas grandes cidades.
Editora: Faces
Autor: Alexander Zimmer
ISBN: 978-85-63609-26-7
Título: A Maldição da Lua
Ano: 2012
Páginas: 210
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