terça-feira, 26 de junho de 2012

Autores em voga (Editora Modo)


    Depois de apresentar uma série de livros da Modo, hoje trago uma matéria um pouco diferente. O foco que outrora recaía sobre as páginas criadas agora é lançado sobre o criador. Dirceu M. Ramos – autor da obra Cartas de Amor – é a bola da vez.
    Particularmente acredito que esta matéria permite, aos leitores, conhecer um pouco mais sobre a mente e a vida de um escritor. Descobrir que não se trata de homens e mulheres mega intelectuais, mas apenas pessoas comuns fazendo aquilo que apreciam. Por fim creio que, ao realizar esta leitura, alguns que sempre tiveram a vontade de se expressar por meio da escrita, mas nunca tiveram coragem para fazê-lo, talvez agora o faça. No mais, espero que esta seja uma leitura agradável.  

    Conheçamos então um pouco mais sobre o Autor:


Penso assim: Tenho outros dentro de mim, mais ou menos como Fernando Pessoa definiu, e esses outros precisam/desejam se manifestar. Acho que tenho controle sobre eles ou, quem sabe, eu seja o boneco de ensaio deles achando que os controlo e, na verdade, o personagem seja eu... Tem um escritor doido/masoquista construindo meu roteiro. 

Agora, pessoa comum... Não sei dizer, até porque não acho nenhuma pessoa comum, mas na vida pessoal não flerto com esses questionamentos, de jeito nenhum. Brindo a vida porque não sei o que tem do outro lado da cortina, então, fico observando o que meus personagens trazem de lá, relato e reparo no que sinto, verdadeiramente, é o que vai importar no final das contas.

Poesia... Sempre fui um incorrigível apaixonado, desde "frangote". Lia muito, amava Neruda ao 10 anos de idade, Drummond aos 11 e Luis Fernando Veríssimo (que não tem nada a ver com poesia) até hoje. Sou exageradamente autocrítico, por isso não gosto de ler poesia, mas ainda faço. Gosto da linguagem curta, começo, meio e fim, rapidinho, com inteligência e estilo. Aos 17 anos publiquei um livro de poesias (horroroso) e depois mais dois (melhores, mas não menos descartáveis). Acho que é isso.

 Espero deixar uma mensagem de transformação. Se o que eu escrevo não puder cumprir esse papel de questionamento para aqueles que leem, se não puder ajudá-los a melhorar como pessoas, pelo menos a tentarem melhorar, então minha escrita não tem a menor serventia. Só espero isso da literatura, não busco sucesso pessoal, busco mudança, transformação, um degrau de cada vez, pra cima.

 Sempre sonhei em publicar livros, confesso que tive mais fervor por essa ideia, mas hoje, não. Parece mais natural que isso ocorra agora, não sei explicar, porque antes era por vaidade, mas hoje não. Não tenho a ilusão de ser um Best Sellers ou dar uma entrevista no Programa do Jô (rsrs). Não tenho a vaidade de observar pessoas olhando para mim com cara de "ó, lá vai o intelectual" ou "vamos perguntar pra ele, ele certamente terá uma resposta inteligente para isso". Isso deixou de ter importância, não sei se defino como amadurecimento ou desapego. Quando recebi o convite da Modo, fiquei mais surpreso que feliz. Havia acabado de publicar um outro livro e me pediram pra analisar outras duas obras. Surpreso, porque não tinha planos para as obras solicitadas e mais ainda, escolheram exatamente a que eu achei que não seria escolhida (rsrs). Confesso que fui ficando feliz devagarzinho, absorvendo a coisa toda, conhecendo pessoas interessantes e interessadas, saindo do meu mundinho solitário de escritor. Não estou ansioso, como era de se esperar, mas apreensivo com o próximo passo, cuidadoso, porque aprendi que é um de cada vez pra se alcançar o que se pretende. E grato, pela oportunidade de estar num time forte, vencedor. Não me sinto realizado, sempre serei um eterno inconformado porque se fiz ou se fizer algo extraordinário com certeza acharei que poderia ter sido melhor, não busco a perfeição, isso é para os prepotentes, busco ser alguém melhor, dia a dia.

 Escrever é um dom, se é para definir, para mim é isso. Tenho a intrigante sensação de que mais que observador, sou observado, de que não escrevo nada, só transcrevo o que alguma voz me dita, a coisa do criador/criatura mesmo. Não consigo imaginar minha vida longe das letras, desde muito menino tem sido assim. Não faço ideia de como seria a minha vida sem a escrita, sem a inspiração, não consigo vislumbrar essa possibilidade. Sou o que sou pelo que li, pelo que fragmentei das obras que visitei, que me deram a condição de discernir valores bons e ruins. Sou o cara que escreve aquilo que sente, mesmo se aquilo que escreve, seja o que sente, quem me sopra nos ouvidos o que escrevo. Confuso? Não é não, leia de novo (rsrs).  

Eu gostava de desenhar, quando menino. Gostava de tocar piano mais adiante. Sinceramente não sei responder se há diferença, pelo que entendi da pergunta, de sentimentos entre um e outro. Um escritor, um escultor, um músico, um doutor, um professor... Havendo amor sincero, há entrega. Havendo entrega e amor, há satisfação pessoal, que creio ser o que todos procuram. Estar satisfeito com aquilo que produziu é um passo fundamental para agradar aquele que vai consumir sua obra, seja ela qual for.

Costumava classificar meus escritos de "filhos". De tanto ouvir dizer que os pais não fazem diferença entre os filhos, descobri que isso é mentira (rsrs). Então parei de chamar meus filhos de escritos (?) rsrs. São filhos sim e sim, fazemos distinção porque nenhum é igual ao outro, circunstancias e oportunidades mudam tudo. Saíram de mim, portanto, são meus filhos e me identifico com todos. "Eu escolhi você para viver minha história" é o livro que mais me identifico por ser mais pessoal, forte e testemunhal.

Todas as histórias já estão prontas em algum lugar. Ninguém me convence do contrário, nem tente (rsrs). Essa afirmação é sadia e estudada, acreditem. O autor precisa sentir, obviamente, aquilo que escreve, do contrário é melhor ser roteirista, se gosta de escrever, mas não sente. Ele vive o que escreve, não consigo imaginar de outra maneira. Ele não precisa estar na Bósnia para escrever sobre o massacre ocorrido lá, mas ele sente a dor, ele quase toca nos escombros. É isso.

A obra



“Uma estação de trem. Um sonho que se repete. Uma lembrança do que não se viveu. O conhecido desconhecido. Uma conspiração… Uma história de amor que embrulha os tempos num único pacote. Vidas separadas. Um amor não resolvido, cortado pelas armas dos vários passados.



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